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Projetos Complementares: você domina este conceito?

Projetos Complementares é uma terminologia muito utilizada na engenharia e arquitetura para referir-se a um certo grupo de projetos que estaria complementando outros. Embora usada com fartura, há nuances de significado nesta expressão que são negligenciadas pelos profissionais da área com certa frequência (eu diria quase sempre). Vamos tentar compreender o termo e seu uso apropriado.


Claro, precisamos começar pelo significado de complemento. O site Origem da Palavra, ao qual sempre recorro, traz:


COMPLEMENTO – do Latim complere, de com-, “junto”, mais plere.

COMPLETO – do Latim completus, “cheio”, particípio passado de complere, “encher”, de com-, “junto, ao mesmo tempo”, mais plere.


Esta palavra deriva de uma raiz Indo-Europeia ple-, “estar cheio”. Esta deixou numerosa descendência nos idiomas europeus derivados do Latim, onde plenus significava “cheio, repleto, aquilo cujo espaço interior se encontra ocupado, o que se apresenta em toda sua potência”.


Talvez ajude se pensarmos que os verbos completar e complementar são praticamente sinônimos.


Por aí também começamos a entender o que seria uma pessoa plena: aquela que se apresenta em toda sua potência, completa.


Armazenemos essas ideias iniciais e recorramos a um pouco de geometria. Os mais estudiosos devem se lembrar que os ângulos complementares são aqueles que somam um ângulo reto (90º). Se forem dois ângulos, um é complementar ao outro. Se forem vários ângulos, são complementares uns dos outros, todos juntos.



Por curiosidade valeria a pena pesquisar etimologicamente sobre suplementos (relativos a ângulo raso, 180º) e replemento (relativos ao círculo completo, ou repleto, 360º). Mas isso não vem ao caso, fiquemos nos complementares.

Se a relação de complementaridade é mútua, ou seja, um é complementar do outro, os tais projetos complementares são quaisquer um deles, se tomados numa relação de completeza com os demais. Ou ainda, nenhum projeto é complementar a outro, se não constituírem juntos um conjunto completo.


Outra forma de dizer isso, já pensando no conjunto de projetos de um empreendimento, é que todos os projetos são complementares entre si se, no conjunto, esgotam o conteúdo relativo a um empreendimento.


O costume é dizer que todos os projetos são complementares ao de arquitetura. Mas, pelo conceito, o projeto de arquitetura é tão complementar aos demais, quanto estes são para ele. Ou seja, sob o ponto de vista de qualquer disciplina, quaisquer projetos serão complementares a ela; resultando que todos são complementares entre si.


Repare que a condição de que o conjunto seja completo é o que caracteriza o uso do termo complementar. Se estiver faltando alguma especialidade, a rigor, os projetos não são complementares porque não completam o conjunto. Assim, se você tem projetos para arquitetura, estruturas, instalações hidrossanitárias e instalações elétricas, a rigor não tem projetos complementares, mas apenas um conjunto provavelmente incompleto. A completa caracterização do empreendimento pode requerer projetos de ar-condicionado, paisagismo, design de interiores, automação, iluminação etc.


É fácil entender isso quando constatamos que um ângulo de 40º não é complementar a outro de 30º, pois não somam 90º. Serão complementares em trio, se incluirmos um de 20º, o que completa o ângulo reto.


Se você pergunta quem desenvolve projetos complementares, está, a rigor, perguntando quem desenvolve um conjunto completo de projetos para um empreendimento. Se não for essa a intenção da pergunta, é mais correto se referir às disciplinas técnicas específicas.


Muitos argumentarão que a expressão é usual no mercado e que todos entendem o que quer dizer. Mas eu pergunto: o conjunto completo de projetos de um empreendimento é chamado como, se os complementares (que em teoria completam o conjunto), pelo uso comum do termo, não garantem que tudo foi contemplado?


Por isso sempre defendo que o termo projeto, quando se refere ao jogo de documentos (modelos), deve ser usado no singular contemplando todas as disciplinas técnicas, em conjunto, pertinentes ao empreendimento. O Projeto (maiúscula de propósito para frisar) deve ser sempre completo, ou seja, constituído de todas as suas partes complementares entre si. Quando usamos uma identificação de disciplina, como nas expressões projeto arquitetônico, projeto de estruturas, projeto de instalações etc., estamos nos referindo a um componente do Projeto, mas nunca a ele completo, pois, para isso, devem estar presentes todos os componentes complementares.


Repare a necessidade de trabalho colaborativo que tanto se comenta atualmente, pois, se não for assim, ninguém faz Projeto efetivamente. E não confunda com o conceito de Projeto Integrado ou Integral, que foi tratado em outro texto.


E você, o que faz (ou desenvolve)? Projeto? Ou uma parte isolada dele, já que para ser complementar dependerá da presença de tudo o mais que complete o empreendimento?

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