Ampliando as economias em obras
- Renê Ruggeri
- 24 de mai.
- 4 min de leitura
Economizar na implantação de empreendimentos é provavelmente a preocupação número um do mercado de construção. Há uma infinidade de conteúdos produzidos sobre esse tema há décadas. Mas, aparentemente, como a preocupação persiste na primeira colocação, as coisas não têm surtido o efeito desejado, apesar das melhorias obtidas.
Discute-se muito sobre as soluções para gerenciamento de obras, mas a implantação de empreendimento vai além disso, pois a execução das obras (e sua gestão) é apenas parte do processo. Certamente a de maior consumo de recursos financeiros, mas não exatamente a maior definidora deles. E isso deveria ser relativamente simples de entender...
Os custos na implantação de um empreendimento distribuem-se algumas categorias de atividades bem específicas (costumo chamá-las de eixos de competência):
A Gestão do Negócio para o qual o empreendimento será implantado
O Projeto do Produto (ou Engenharia do Produto), desenvolvimento de soluções técnicas para o produto (edifício, infraestrutura, equipamento etc.) que será executado.
O Processo Produtivo (ou Engenharia do Processo), definições, planejamento e controle do processo de produção desse produto.
A execução do produto, que no setor de construção civil, é a Execução da Obra.
A Entrega do produto para inicio do seu ciclo de operação (ou uso, conforme o caso).
Todos esses grupos de atividades têm custos que impactam financeiramente o processo de implantação do empreendimento. Na realidade, eles impactam uns nos outros e, por isso, não podem ser considerados de forma isolada. Pense, por exemplo, como a ideação do negócio influencia o desenvolvimento da engenharia do produto e como esta influencia a execução das obras.
Vamos analisar três destes eixos de competência: Projeto do Produto, Processo Produtivo e Execução de Obras. Como eles impactam o custo da obra, que em geral representa cerca de 60% do custo total da implantação do empreendimento, o que é, sem dúvida, a parcela mais significativa dentre todos.
O custo de uma obra é composto, na orçamentação dela, por três categoria de insumos: materiais, mão de obra e equipamentos usados na execução. A distribuição do custo entre esses três tipos de insumos varia, mas há uma média nas construções convencionais que serve á nossa intenção:
60% do custo é material
40% do custo é mão de obra e equipamentos
Os materiais são definidos e quantificados pela Engenharia do Produto, ou seja, os projetos desenvolvidos nas diversas especialidade da Arquitetura e Engenharia pertinentes ao empreendimento. A Mão de Obra e equipamentos usados são definidos pela Engenharia do Processo, ou seja, pelo planejamento da forma de conduzir a execução da obra.
Durante a Execução da Obra é relativamente mais fácil ajustar o Processo Produtivo e menos o Produto, pois isso demandaria rever uma série de documentos pro equipes em geral já desmobilizadas da implantação. Assim, é mais fácil pensar em novas formas de executar o mesmo produto e não em novos produtos passíveis de executar com a mesma mão de obra e equipamentos.
O resultado disso é que iniciamos obras com 60% dos custos dela congelados nos documentos de engenharia, com pouquíssima flexibilidade. Dos 40% restantes, parte é inevitável e condicionado por circunstâncias que fogem ao controle da equipe de implantação. Por exemplo a localização da obra condiciona o custo de fretes e transportes diversos e isso não há como mudar. Digamos que metade dos 40% têm algum tipo de flexibilidade. Por exemplo, posso alterar o porte das betoneiras para aumentar a produtividade, ou até mesmo comprar concreto usinado. Essas mudanças não alteram o produto, mas alteram detalhes do processo produtivo (impactando-o em custos, prazos e qualidade).
Ou seja, temos dedicado esforço para trabalhar em cerca de 20% o custo das obras e admitimos 60% deles quase “imexíveis” como diria um antigo político. Se pudéssemos intervir em menos da metade dos custos oriundos do projeto do produto (materiais), digamos um terço deles, teríamos uma outra parcela de 20% para trabalhar. Isso simplesmente dobra a capacidade e gerar reduções de custos na execução das obras.
Mas intervir objetivamente e decisoriamente no Projeto do Produto exige uma presença tecnicamente mais qualificada no acompanhamento deste trabalho e focada nos requisitos do negócio (que aliás, são definido no grupo de atividades de Gestão do Negócio, demonstrando, mais uma vez, a integração dos eixos de competência).
Em geral, empreendedores se limitam a contratar equipes externas para o eixo Projeto do Produto e, o que é pior, de forma não integrada. E a necessária integração que já indicamos entre os eixos de competência é tão ou mais importantes internamente em cada eixo. Assim como a execução da obra recebe um projeto de produto com pouca possibilidade de alterações, internamente no Projeto do Produto, algumas especialidades recebem o resultado de outras, com pouca flexibilidade de mudanças.
A consequência do isolamento entre especialidade no Projeto do Produto nada mais é do que parte do isolamento entre Projeto do Produto e Execução da Obra. Ao definir uma especialidade sem possibilidade de mudanças congelamos parte dos 60% do custo da obra. Ou seja, as oportunidades de ganho na sequência do processo já ficam restringidas. Se a especialidade 1 congela parte dos custos, a especialidade 2 subsequente fica limitada para explorar alternativas mais interessantes para o empreendimento. O mesmo ocorre em cascata com a especialidade 3, a 4 e assim por diante. O resultado é o congelamento de 60% do custo da obra.
Os 20% de ganhos possíveis na parcela de custo de materiais dependem de duas condições vitais:
A integração na concepção das soluções nas diversas especialidades, o que se obtém com trabalho colaborativo que o mercado anseia e não consegue fazer (porque o o reduz a mero compartilhamento de informações).
O foco do projeto do produto nos requisitos do negócio, sobretudo os gerenciais (em geral o foco está nos requisitos técnicos). Afinal, as soluções técnicas mais sofisticadas são, em geral, também as mais caras e isso não significa que não haja soluções mais econômicas que atendam plenamente aos requisitos do negócio.
Essas condições são geridas pela Gestão do Negócio ao definir lideranças para os eixos de competência que, além de compreender profundamente o trabalho a ser feito em cada eixo, tenham o foco na integração interna e externa dos trabalhos para transformar os requisitos do negócio e dos demais eixos em parâmetros técnicos objetivamente consideráveis no trabalho.
Isso não é uma tarefa elementar, mas o resultado dela tem potencial para impactar 40% o custo da obra. Não que vá eliminá-lo todo, obviamente, mas estamos falando de pelo menos o dobro de oportunidades de reduções do custo de implantação.
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