Muita gente sabe que já lecionei bastante na vida, mas pouca gente conhece a fundo essa minha trajetória porque não fico alardeando esse fato.
Sempre gostei de ensinar, tanto quanto gosto de estudar. Para não retornar muito no tempo, vou contar sobre isso apenas da faculdade em diante. Já são 30 anos na estrada dos projetos com uma pista paralela na estrada da academia.
Sim, na faculdade sempre gostei de estudar com os colegas. Eu era bom aluno e ajudava a turma a estudar. Eu produzia resumos que eram até bem concorridos. Era meu jeito de estudar, eu escrevia, desenhava, escrevia, calculava, escrevia... Muito texto, para explicar tudo tim tim por tim tim. E funcionava!
Fui monitor de algumas matérias na faculdade: Topografia, Desenho Arquitetônico, Instalações Prediais e Concreto Armado, que eu me lembre. Em algumas eu apenas apoiava as atividades práticas, noutras cheguei a dar aulas de preparação para as provas, algo como os antigos “aulões” do pré-vestibular.
Aliás, fui também professor do curso pré-vestibular operado pelo Diretório Acadêmico da Escola de Minas de Ouro Preto. Ali eu lecionava Física, mais especificamente Mecânica. Me lembro da aula que dei no processo seletivo: como não se sabia qual área da Física eu lecionaria, dei uma aula descrevendo todo o conteúdo da Física, como ele se decompunha e como as partes se relacionavam. Era meu jeito de dizer que eu precisava do trabalho. Me lembro que eu sempre pegava as aulas após o intervalo para chegar cedo e ajudar os estudantes com os tópicos em outras matérias (era perceptível nas aulas de Física que havia dificuldades com Matemática).
Me formei e uma das primeiras providências foi oferecer, através da Fundação Gorceix, um curso intitulado “Fundamentos do Projeto Arquitetônico”. Ali começava a minha odisseia pelo olhar abrangente e profundo sobre os projetos. Vale ressaltar que eu comecei no Desenho Arquitetônico quando pedi que meu pai me ensinasse a fazer “aqueles desenhos”, eu tinha cerca de 10 anos (não é erro de digitação, é 10 anos mesmo). Aos 14 anos, ingressando na Escola Técnica, ganhei de Natal um kit profissional completo para desenho técnico, com prancheta, esquadros, escalímetros, compasso, normógrafo, rolos de papel e tudo o que se pode pensar. Afinal, minha diversão, que era desenhar (técnica ou artisticamente), começava a virar profissão.
Passei um período difícil logo após a formatura (a morte da minha noiva), o que me fez ficar recluso em casa por um bom tempo. Neste período a única coisa que eu fiz foi lecionar. Ensinava Windows, Word e Excel para crianças, em casa mesmo.
Enfim, reaprumei e fui montar meu primeiro escritório de projetos em Belo Horizonte. Entre uma pós-graduação e outra criei e ofereci cursos na área de Projetos. Um destes, com quase 200 h de duração, desenvolvia um projeto completo de um pequeno edifício, contemplando Arquitetura, Estruturas Instalações Elétricas, Hidrossanitárias e Incêndio. Tinha, inclusive, um módulo de Coordenação de Projetos e se desenrolava totalmente no AutoCAD.
Após alguns anos de formado, fui indicado para lecionar na Academia Militar de Minas Gerais para o Curso de Formação de Oficiais do Corpo de Bombeiros. Salvo engano fiquei ali de 2003 a 2010, lecionando: Instalações Prediais, Desenho de Estruturas e Instalações, Instalações Elétricas, Eletrotécnica, Teoria das Estruturas e Resistência dos Materiais.
Após um curso de aperfeiçoamento em Gestão de Projetos (ainda eram poucos os MBAs nesta área), tema com o qual me envolvi na pós-graduação em Gestão de Empresas, lecionei dezenas de vezes um treinamento de 20 h em Gestão de Projetos. Era divertido: planejávamos, executávamos e expúnhamos os resultados dos projetos desenvolvidos pelos alunos no curso. Esses cursos me renderam um convite para assumir a Diretoria de Projetos de uma fundação, onde fiquei por quase três anos.
Nesta época começaram as palestras também. Minha facilidade com as várias áreas me permitia criar conteúdos interessantes e diversificados, além de adotar abordagens inovadoras e, eventualmente, inusitadas. Os temas migraram gradativamente dos tópicos técnicos de engenharia para assuntos de Gestão, com alguma ênfase na Gestão de Projetos. Aliás, sobrou tempo pro MBA em Gestão de Projetos depois da passagem pela Fundação.
É claro que eu sempre estudei bastante, por necessidade, por curiosidade e por gosto mesmo. Faço isso até hoje.
Após um período na Vale, o que me deixou longe das salas de aula, acabei escrevendo meu segundo livro e, por conta dele, fui convidado a dar aulas no IPOG. Iniciei com um módulo de Gestão de Projetos num MBA de Engenharia e Construção e migrei para módulos de Gestão e Coordenação de Projetos de Arquitetura e Engenharia num MBA em Arquitetura.
Nessa época também, em paralelo, iniciei meu envolvimento com o BIM. Organizei eventos, incentivei equipes de projetos e palestrei sobre o tema várias vezes. A perspectiva abrangente daquele curso ministrado uma década antes ganhava ferramental tecnológico com o BIM. O Processo de Desenvolvimento do Projeto (PDP), sobre o qual eu me debruçava há vários anos, ganhou status. Acredito que tenha sido mais fácil eu compreender o BIM do que o mercado começar a pensar com rigor no PDP (o que é difícil até hoje).
Neste mesmo período acabei ministrando alguns módulos em áreas do Gerenciamento de Projetos em MBAs, de outras instituições. O Gerenciamento de Projeto virou uma coqueluche no mercado e com razão, é uma área extremamente importante e necessária. Por fim, um módulo que mesclava Gestão de Projetos, Gestão de Contratos e BIM numa pós de Gestão na área de Engenharia.
A pandemia e minha passagem pela AGESUL (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos de MS) quebraram esse ciclo de aulas. Mas não deixei, claro, de dar algum treinamento na AGESUL. Sempre me mantive trabalhando e estudando. Houve um período interessante em que eu era aluno e professor do IPOG. Foram as duas últimas pós-graduações que fiz (até o momento).
Hoje em dia, continuo produzindo conteúdo para cursos e palestras (das quais talvez eu fale noutra ocasião), mas agora, com o desenvolvimento da Engenharia Integral (minha abordagem metodológica), as estruturas curriculares tradicionais não se ajustam tanto à minha perspectiva. Atualmente, o que tenho a oferecer tem mais da minha vivência e produção intelectual destes 30 anos. Ensino o que tenho na minha própria visão, que contém o que há de comum por aí, costurado transversalmente com uma perspectiva abrangente e conceitualmente profunda. Não me peçam para separar em módulos porque minha perspectiva é integral.
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