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O que falta no ESG?

Foto do escritor: Renê RuggeriRenê Ruggeri

Recentemente assisti a uma excelente live sobre ESG (Enviroment and Social Governance) com uma consultora que, em uma fala introdutória, resumiu a questão de uma forma que considero brilhante. Dizia a Dra. Cláudia Coser que nas questões relacionadas ao ESG estão envolvidas três vidas:


  • · A vida do planeta

  • · A vida da sociedade

  • · A vida das empresas


O brilhantismo está na simplicidade e essencialidade do conceito. De fato, aos nos preocuparmos com o meio ambiente, com as questões sociais e a governança empresarial estamos, por fim, pensando na sustentabilidade da vida nestas três perspectivas.


Recentemente tive também a oportunidade de falar um pouco sobre a Teoria Integral com alguns colegas de trabalho com os quais estou criando um negócio que reúna as perspectivas desta teoria de forma quase explícita. Quem sabe, numa outra oportunidade eu possa dar mais detalhes deste negócio num texto específico.


A junção dos dois conteúdos, ESG e Teoria Integral, me acendeu um alerta de que a perspectiva do ESG talvez careça de uma quarta dimensão tão fundamental quanto as demais (talvez quarta e quinta dimensões). Até acredito que inevitavelmente estes temas acabem sendo abarcados pelo debate do ESG, mas me pareceu não estar explícito e isso me incomodou. Até acredito que inevitavelmente estes temas acabem sendo abarcados pelo debate do ESG, mas me pareceu não estar explícito e isso me incomodou.


Para citá-los, preciso resgatar rapidamente uma abordagem da Teoria Integral que os reunirá num quadro (ou num mapa) mais completo.


Ken Wilber, filósofo americano que nos trouxe a perspectiva da Teoria Integral, apresenta-a de forma prática a partir de um framework dividido em quatro quadrantes. Vamos reconstituí-lo rapidamente:


  1. Imagine que pudéssemos distribuir (representativamente, é claro) todo o conhecimento produzido pela humanidade num quadro plano. Digamos uma folha de papel. Ali estaria todo o conhecimento científico, filosófico, espiritual etc.

  2. Dividamos este quadro por uma linha vertical e coloquemos inicialmente à esquerda tudo que é interno ao indivíduo e à direita, tudo que lhe é externo. É claro que a consciência de uma pessoa estaria do lado esquerdo (interno) e, por exemplo, o conhecimento da física e/ou química do mundo à direita (externo).

  3. Façamos uma nova divisão, agora por uma linha horizonta. Coloquemos na parte de cima, tudo que é individual e, abaixo, tudo que é coletivo. No quadrante interno/coletivo (esquerda/abaixo) temos, por exemplo a cultura, como se esta fosse a consciência coletiva de uma comunidade. A direita/abaixo (externo/coletivo) estão as estruturas sociopolíticas ou econômicas, por exemplo.



Você pode pensar em algum tema objeto de estudo e refletir se ele é interno, externo, individual ou coletivo. Pode ocorrer de uma área de conhecimento ter tópicos diferentes em quadrantes diferentes.


A Psicologia, por exemplo, é originalmente interna e individual e seu conteúdo estaria no quadrante superior esquerdo. Mas o mundo não é assim segmentado e o desenvolvimento do conhecimento encontra conexões entre os quadrantes. Faça a reflexão com a Medicina, como outro exemplo, que certamente nasce no quadrante direito/superior com a Biologia.


As estruturações sociais são manifestações externas construídas pela ação de várias pessoas reunidas num coletivo que compartilha uma cultura. A Antropologia pode estudar essas coletividades culturais (esquerdo/inferior), mas as estruturas sociais são objeto da Sociologia que tem foco no quadrante direito/inferior.


Nossa ação nasce de uma intenção interna, mas se realiza externamente. Assim, estabelecemos relação direta do lado esquerdo (consciência) com o direito (matéria/energia). Mas o que ocorre no mundo, físico ou social, influencia nossos pensamentos e sentimentos formatando nossa cultura e um caldeirão efervescente de interações surge no framework da Teoria Integral.


É claro que a Teoria Integral é bem mais complexa, profunda e abrangente. Introduzimos aqui um dos seus artefatos mais singelos, o framework dos quadrantes.


Enviroment, ou meio ambiente, é obviamente externo; está do lado direito. Social também é externo, lado direito. As organizações estão também do lado direito, pois são estruturas criadas pela ação de coletivos (ninguém cria uma organização sozinho).


Mas é claro que todos eles recebem a ação de indivíduos e de coletivos. E é esse o ponto que me parece ainda frágil no ESG, falta a consideração objetiva, formal e sistêmica dos aspectos internos dos indivíduos e coletivos, ou, pra ser mais específico, da consciência individual e da cultura.


Não tenho dúvidas de que estes pontos compõem as análises do ESG de alguma forma (pois não seriam possíveis sem eles), mas sinto a necessidade de incorporá-los objetivamente e explicitamente no mosaico de temas que discute o equilíbrio do mundo.


Podemos cuidar da vida do planeta, da sociedade ou comunidades, das organizações, mas não podemos fazer isso sem consideração da vida dos indivíduos e das culturas dos grupos, mesmo que em relações extremamente complexas e transformacionais.


Não incluir objetiva e explicitamente estes aspectos (indivíduos e coletivos, consciência e cultura) me parece, inclusive à luz da Teoria Integral, desconsiderar o princípio fundamental das hierarquias das estruturas naturais e sociais. A hierarquia é um princípio natural de organização das estruturas na natureza ou na sociedade. Não se refere, obviamente, a relações de poder, mas a relações de sustentação existencial.


Estruturas sociais se formam a partir da cultura, que se transforma a partir da consciência dos indivíduos. O Meio Ambiente se transforma a partir da ação de indivíduos e grupos que, por sua vez, nascem da consciência e da cultura.


Não podemos negligenciar consciência e cultura e, por isso, considero que devem estar explicita e formalmente consideradas na composição de esforço em busca de equilíbrio e sustentabilidade para a vida de pessoas, grupos (coletivos), organizações, sociedade e meio ambiente.


Por mais que, numa perspectiva plenamente integradora, sejamos todos parte de um sistema socioambiental, não podemos simplesmente negar a cada um sua individualidade. Aliás, é a partir destas individualidades que promovemos os avanços, mais especificamente dos antagonismos que se originam delas. Se queremos avançar, devemos partir do que é fundamental: consciência e cultura. O resto é ação no quadrante das externalidades e não terá sustentação sem uma abordagem mais integral.

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