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Foto do escritorRenê Ruggeri

Falhas no Projeto AEC e no PDP

Atualizado: 21 de nov.

O termo “projeto”, na Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC), tem sentido duplo. Pode significar o produto do processo de desenvolvimento do projeto, ou pode significar o próprio processo. Neste último caso, pode abranger até mesmo a execução da obra, tendendo ao Processo de Implantação do Empreendimento. Como produto, adotamos aqui a expressão Projeto AEC e como processo, restringindo a uma parte específica do Processo de Implantação, usamos a expressão Processo de Desenvolvimento do Projeto – PDP.


Garantir a qualidade do projeto significa cuidar tanto do Projeto AEC (produto), quanto do PDP (processo). A Gestão da Qualidade inclui ambos os enfoques: qualidade do produto e qualidade do processo.


Procedimento fundamental dos processos de Gestão da Qualidade, é a verificação, ou inspeção. Pode ser feita sobre os resultados do processo ou sobre o próprio processo. Por exemplo, verificar a qualidade de uma garrafa plástica não é o mesmo que verificar a qualidade do processo que a produz. Os enfoques são complementares, pois se o processo possui falhas, nem mesmo a melhor matéria-prima poderá evitar falhas no produto. Analogamente, um excelente processo não poderá garantir um bom resultado se a matéria-prima não tiver qualidade mínima.


No PDP a matéria-prima são informações e o processo as trabalha produzindo outras informações que são apresentadas em documentos. Há uma tendência, atualmente com o BIM, de que os documentos sejam substituídos por modelos informacionais, mas não é uma realidade já consolidada. Estamos no caminho e, até que tornemos essa a realidade do mercado, ainda devemos pensar no Projeto AEC como um conjunto de documentos.


Falamos, então, quando pensamos nas verificações pertinentes à Gestão da Qualidade do Projeto AEC, de inspecionar os documentos, confrontando-os com os requisitos que devem atender, ou inspecionar o próprio PDP, como processo, confrontando-o aos seus requisitos operacionais.


Estabelecer o rol de requisitos a serem atendidos é parte do trabalho de Gestão da Qualidade. Estes requisitos devem ser tão claros e objetivos quanto maior for a segurança que queremos ter no negócio. Parece simples, mas não é.



Analisar algo confrontando-o com requisitos previamente estabelecidos é o que chamamos de auditoria. Logo, as auditorias, do produto ou do processo, são procedimentos fundamentais da Gestão da Qualidade, entre outros, obviamente.


A verificação do projeto, ou seja, sua auditoria, deve ser realizada sobre os documentos e informações que gera como resultado (o Projeto AEC) e sobre os procedimentos que adota para produzir estes resultados (o PDP). Nestes processos de verificação, complementares e relativamente independentes, diversos tipos de falhas são encontrados.


A Gestão da Qualidade, ao trabalhar sobre as falhas, sobretudo em relação aos custos associados a elas, é clara ao diferenciar o custo das falhas e o custo da prevenção.


Os custos das falhas são aqueles em que incorremos quando uma falha ocorre e não é corrigida a tempo. Tem a ver com as correções, retrabalhos, perdas etc. normalmente irrecuperáveis. Na construção civil incluem os erros de execução de obras originados em falhas no Projeto AEC.


O custo da prevenção tem a ver com os investimentos feitos para se evitar a ocorrência e propagação de falhas. Tem a ver com melhorias de processo, treinamentos, padronização de procedimentos etc. Na construção civil, especificamente no desenvolvimento de projetos, inclui a estruturação de boas práticas no PDP, dentre elas, as auditorias de produto e do próprio processo.


É vasta a bibliografia que demonstra que os custos da prevenção são, na maioria absoluta das vezes, bem inferiores aos custos das falhas.


As auditorias identificam falhas, tanto em produto quanto em processo, cuja tipificação é primordial para definição de estratégias de melhoria de processo para garantia da qualidade. Cada tipo de falha induz a tipos específicos de intervenções em busca de melhorias. Como cada processo apresenta distribuição de falhas diferente, não há como definir uma abordagem única para a Gestão da Qualidade, especificamente no que se refere às melhorias de processo. Logo, evoluir implica em abordar em cada processo, as tipologias de falha que lhes são mais características e prejudiciais.


Assim, a primeira grande divisão de falhas no projeto é:


  • Falhas no produto: Relacionam-se diretamente à qualidade e à funcionalidade dos documentos finais (os desenhos, memoriais, relatórios, especificações etc.).

  • Falhas no processo: Referem-se à organização, metodologia e práticas utilizadas na criação dos documentos. Exemplos incluem falta de integração entre equipes, gestão ineficaz de mudanças e uso inadequado de tecnologias.


FALHAS NO PRODUTO (Projeto EAC)


 Essas falhas podem ocorrer em qualquer etapa do desenvolvimento do projeto, desde os Estudos de Viabilidade e Levantamento de Informações até o Projeto Executivo. prejudicando a clareza e o uso adequado dos dados no andamento do processo de implantação do empreendimento.


Os produtos do PDP a cada etapa, são ao mesmo tempo resultado da etapa atual e ponto de partida para a próxima etapa. Em qualquer condição, é preciso averiguar sua qualidade tanto para o cumprimento do objetivo da etapa que se finaliza, quanto para o subsídio para a etapa que se inicia. É com base no relatório de falhas e na classificação delas que se define estratégias para melhoria do processo e prevenção de reincidências.


No caso das falhas do Projeto AEC, consideramos uma classificação nas seguintes categorias e subcategorias:


Categorias e subcategorias das Falhas no Projeto AEC

 

  • Falhas de Forma

As falhas de forma referem-se à organização, apresentação e acessibilidade das informações no projeto.

o   Ausência de Documentos: Falta de documentos essenciais, como plantas baixas, memoriais descritivos, especificações ou cálculos estruturais, que são necessários para o andamento do projeto. Pode-se considerar a relação do Projeto AEC com especialidades de planejamento e orçamento de obras, planejamento de aquisições etc. Isso pode gerar atrasos ou decisões inadequadas devido à ausência de informações essenciais, com futuras mudanças e retrabalhos.

o   Versões Inadequadas ou Desatualizadas: Utilização de versões desatualizadas de documentos, como plantas, relatórios ou listas de materiais, que não refletem as alterações ou decisões mais recentes do projeto. Isso pode causar conflitos entre as equipes de trabalho e comprometer a execução do projeto, já que as informações não estarão alinhadas.

o   Organização Inadequada de Documentos ou Informações: A falta de uma estrutura lógica ou eficiente para armazenar e organizar os documentos do projeto pode dificultar o acesso e a compreensão das informações, especialmente quando vários envolvidos precisam consultar o projeto. Isso inclui, por exemplo, arquivos não indexados corretamente, documentos sem numeração ou sequenciamento adequado, duplicidade de documentos, pastas desorganizadas.

o   Problemas Gráficos e de Representação: Falhas nos desenhos e representações gráficas, como distorções, omissões ou erros de escala, que podem levar à má interpretação das informações. Isso pode incluir problemas com terminologias (equivocadas ou dúbias), desenhos com excesso de informações ou a falta de legendas explicativas, prejudicando a leitura e compreensão do Projeto AEC.

o   Erros de Formato Digital: Arquivos digitais que apresentam erros de formatação, como incompatibilidade entre softwares, arquivos corrompidos, formatos não padronizados ou formatos pouco úteis para trabalhos externos. Isso impede que os documentos sejam acessados corretamente, compartilhados e reutilizados (editados) entre equipes e parceiros, causando atrasos e erros na execução do projeto.

 

  • Falhas de Conteúdo

As falhas de conteúdo são aquelas que ocorrem quando as informações fornecidas no projeto estão incorretas, incompletas, divergentes, conflitantes ou em desacordo com as necessidades do empreendimento. Essas falhas afetam a coerência e a consistência do trabalho desenvolvido.

o   Incompatibilidade entre Especialidades: Falta de alinhamento entre as diferentes disciplinas envolvidas no projeto (arquitetura, estrutura, instalações etc.) e planejamento da implantação (aquisições, metodologias construtivas, orçamento etc.). Isso pode resultar em soluções conflitantes, como dimensões e posições incompatíveis entre elementos da obra, interfaces que não se integram, especificações conflitantes etc., gerando retrabalho e atrasos.

o   Informações Conflitantes ou Divergentes: Quando diferentes documentos do projeto contêm informações contraditórias ou discordantes, numa mesma disciplina ou em disciplinas diferentes. Isso gera confusão entre os profissionais que executam o projeto e pode resultar em erros caros durante a obra.

o   Ausência de Informações: A falta de dados críticos para o desenvolvimento do projeto, como especificações técnicas, orçamentos, dados de fornecedores. Mais que ter os documentos, é preciso que as informações disponíveis sejam suficientes e adequadas ao objetivo e uso em cada etapa.

o   Erro de Leitura ou Integração de Dados Externos: Falhas ao integrar ou interpretar dados de fontes externas, como cálculos estruturais de fornecedores, dados geotécnicos ou de sistemas especializados, dados de equipamentos etc.. Isso pode ocorrer devido à interpretação inadequada desses dados ou erro na integração com o restante do projeto, resultando em falhas que comprometem a viabilidade técnica.

 

  • ·Falhas Normativas

As falhas normativas ocorrem quando o projeto não está em conformidade com as normas técnicas, legislações ou outros regulamentos, obrigatórios ou não, o que pode resultar em baixo desempenho da obra, rejeição do Projeto AEC e mudanças durante a execução.

o   Desobediência às Normas Técnicas: Não observar prescrições das normas técnicas obrigatórias para a execução do projeto. Isso pode afetar o desempenho das soluções e a sua segurança, além de resultar em problemas legais e ajustes de execução.

o   Falha de Adequação a Legislações: Atender de forma equivocada ou insatisfatória às exigências legais estabelecidas pela legislação local ou nacional, como a lei de acessibilidade, normas ambientais, de segurança do trabalho, entre outras. Isso pode resultar em multas, paralisação da obra ou necessidade de reformulações no projeto para atender à legislação.

o   Não Conformidade com Critérios de Certificações: O projeto pode não atender aos critérios necessários para obtenção de certificações, como LEED, AQUA ou outras relacionadas a sustentabilidade, eficiência energética ou qualidade ambiental. Isso pode comprometer a viabilidade de um negócio que dependa de tais certificações para operar, além de prejudicar a imagem do empreendimento.

o   Documentação para Aprovações Incompleta: Falta de documentos ou informações necessárias para a aprovação do projeto junto aos órgãos competentes, como prefeitura, corpo de bombeiros, ou agências de meio ambiente. Isso pode atrasar o processo de licenciamento e tornar o negócio ilegal ou sem as autorizações necessárias para a operação.

 

  • Falhas de Conceito

As falhas de conceito referem-se ao baixo desempenho das soluções propostas no projeto, que podem resultar em ineficiências, impactos negativos ou até inviabilidade do negócio. Essas falhas estão relacionadas ao atendimento aos requisitos do negócio e à sustentabilidade das soluções adotadas.

o   Não Atendimento a Requisitos do Negócio: O projeto pode falhar em atender aos objetivos do cliente ou às necessidades do usuário final, como não contemplar a funcionalidade necessária, não respeitar o orçamento definido ou não considerar aspectos operacionais e de manutenção importantes para o negócio. Isso pode resultar em insatisfação do cliente e até em reformas a curto prazo.

o   Impactos Socioambientais Negativos: Soluções que podem gerar impactos negativos sobre a comunidade ou o meio ambiente, como poluição, consumo excessivo de recursos naturais, interferências nocivas na dinâmica urbana. Essas questões podem prejudicar a imagem do negócio e gerar riscos legais e financeiros.

o   Soluções Economicamente Inviáveis ou Inadequadas: Propostas financeiramente inviáveis,, como o uso de materiais ou técnicas construtivas que ultrapassam o orçamento ou não atendem aos requisitos econômicos operacionais do negócio. Isso pode levar ao aumento de custos (de implantação, operação ou manutenção), redução do retorno financeiro ou inviabilidade da implantação ou da operação.

o   Falta de Viabilidade Técnica: Propostas tecnicamente inviáveis, seja pela falta de conhecimento dos materiais ou pela impossibilidade de implementação devido a condições específicas do terreno ou do contexto. Isso pode levar à necessidade de reformulação do projeto e atrasos no cronograma.

 

FALHAS NO PROCESSO (PDP)

 

Se um produto apresenta falhas que não estão diretamente relacionadas à matéria prima, então é necessário verificar a qualidade do processo que o produziu, o PDP no caso do Projeto AEC.


Se as falhas no Projeto AEC não derivam da má qualidade das informações de entrada, muito provavelmente o processo não permitiu que essa matéria-prima fosse adequadamente utilizada.


Auditar um processo não é um procedimento simples. Os processos são dinâmicos e incluem variáveis com algum nível de independência e variabilidade.

Cuidar dos processos, por mais que possa haver referências, é um desafio complexo, mas a tipificação de falhas ajuda a organizar as análises e definir intervenções.


As falhas do processo, em categorias e subcategorias, são:

 

Categorias e subcategorias de falhas no PDP

  

  • Falhas de Planejamento

o   Definição inadequada do escopo: Escopo mal definido, incompleto, ou mal integrado a trabalhos complementares, levando a retrabalho ou entregas desalinhadas. É importante destacar que o escopo do PDP não se resume a uma descrição do que deve ser entregue como Projeto AEC.

o   Desconsideração de requisitos legais e normativos: Ignorar exigências regulatórias no planejamento inicial, não apenas para o produto, mas também para o processo de implantação geral.

o   Cronograma inadequado ou irrealista: Prazos apertados, mal distribuídos ou mal equilibrados com trabalhos complementares paralelos, gerando sobrecarga de trabalho e erros.

o   Orçamento inadequado: Não contemplar orçamento suficiente para mobilizar recursos e atividades da equipe, considerando integração com trabalhos complementares paralelos.

o   Falta de planejamento para contingências: Inexistência de estratégias para lidar com imprevistos.

 

  • Falhas de Coordenação

o   Comunicação ineficaz entre equipes: Falta de clareza, ausência, ou mal uso de canais eficazes de troca de informações internas e com atividades complementares paralelas.

o   Integração insuficiente entre especialidades: Problemas na agregação de esforços entre especialidades do projeto do produto, ou de trabalhos complementares paralelos, em busca de soluções integradas.

o   Indefinições sobre compatibilizações: Falta de tomada de decisão em relação a alternativas de resolução de incompatibilidades, internas no projeto do produto e externas com trabalhos complementares paralelos.

o   Gestão inadequada de interfaces externas: Problemas ao lidar com fornecedores, consultores e outros intervenientes com atividades paralelas.

 

  • Falhas de Controle

o   Gestão ineficaz de mudanças: Alterações não comunicadas, não compartilhadas, ou não analisadas, gerando confusão no entendimento da equipe sobre o produto ou o processo de implantação.

o   Problemas no controle de qualidade do produto: Falta de revisão técnica ou validação sistemática de entregas intermediárias (etapas do projeto), gerando erros e retrabalhos (a auditoria do Projeto AEC deve ser um procedimento regular no PDP).

o   Problemas no controle de qualidade do processo: Ausência de ações de monitoramento e melhoria contínua do processo de desenvolvimento do projeto e sua integração com atividades complementares paralelas (a auditoria do próprio PDP deve ser procedimento regular nele).

o   Controle inadequado de versões: Dificuldade em identificar qual é a versão atualizada de documentos e sua integração com outros, gerando conflitos entre disciplinas.

 

  • Falhas no Uso de Ferramentas e Tecnologias

o   Uso inadequado de softwares: Má aplicação de ferramentas como CAD, BIM, gestão de documentos e outros, resultando em perdas de eficiência.

o   Falta de interoperabilidade entre sistemas: Problemas ao integrar softwares e plataformas usados pelas equipes do Projeto AEC e demais eixos de atividades do empreendimento.

o   Capacitação insuficiente: Equipes com baixa proficiência nas ferramentas utilizadas.

o   Gestão ineficaz de dados: Problemas com o tratamento de dados e informações com uso de tecnologia, provocando perdas.

 

  • Falhas de Gestão de Pessoas

o   Distribuição inadequada do trabalho: Trabalho e responsabilidades mal distribuídos entre membros da equipe, causando sobrecarga, estresse e queda de desempenho.

o   Liderança ineficaz: Ausência de pessoas que direcionem e motivem a equipe para a colaboração e o alto desempenho, interna e externamente ao PDP.

o   Resolução de conflitos ineficaz: Falta de alinhamento e conflitos mal resolvidos entre membros da equipe e/ou partes externas, prejudicando o trabalho colaborativo.

o   Decisões sem participação: Decisões importantes tomadas sem envolver partes interessadas relevantes ou especialistas necessários, gerando pendências.

 

  • Falhas na Gestão de Partes Interessadas

o   Falta de alinhamento com o cliente e/ou usuários: Expectativas e objetivos do cliente e/ou usuários não identificados, discutidos ou analisados inadequadamente.

o   Comunicação inadequada com partes externas: Informação insuficiente ou mal transmitida para aprovadores, órgãos reguladores, investidores consultores, fornecedores etc.

o   Falta de envolvimento de partes interessadas: Decisões tomadas sem engajamento das partes interessadas cruciais, comprometendo a colaboração e incluindo risco de revisões das decisões.

 

  • Falhas de Integração do Conhecimento

o   Lições aprendidas não aproveitadas: Falta de uso de experiências passadas para evitar erros recorrentes.

o   Falta de documentação processual: Ausência de registros que poderiam auxiliar na replicação de boas práticas.

 

Sobre essa classificação caberiam inúmeras análises, mas isso fica pra outra oportunidade.

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