Sou um entusiasta do autoconhecimento como libertador do indivíduo. E não penso isto apenas porque estudei sobre o tema, mas porque experimentei a transformação de entender diversos aspectos de mim mesmo. Meu comprometimento é sustentado também pela vivência. Acredito que todos deveriam fazer isso o mais cedo possível em suas vidas.
A experiência começou num módulo de pós-graduação e acabei me qualificando para eu mesmo poder orientar outras pessoas nessa jornada. Em geral, não faço isso externamente, apenas para as minhas equipes de trabalho e, ainda assim, para aqueles que desejam. O autoconhecimento é uma jornada que apenas o indivíduo pode trilhar e, então, não há como forçar a barra. A decisão e o comprometimento são da pessoa consigo mesma. O que fazemos é ajudar.
Sempre que posso, divulgo a importância do autoconhecimento.
Há muitas formas de acessar as características mais essenciais de uma pessoa. E, obviamente, nenhuma delas é potente o suficiente para evidenciar essa essência em sua total complexidade. Costumo dizer que o ser humano é demasiadamente complexo para se deixar traduzir facilmente. Creio ser preciso deixar claro, então, que nenhuma leitura ou interpretação que se faça de uma pessoa com base numa ou noutra ferramenta de acesso à sua essência é completa. Aliás, muitas são bastante superficiais e simplistas.
Devemos também lembrar que o ser humano está em constante evolução. Logo, há muitas de suas características que se transformam com o tempo e o contexto. É claro que há pontos que são mais permanentes e outros nem tanto. O fato é que os acessos que se faz à essência de uma pessoa podem ter prazo de validade. É preciso conhecer mais a fundo a natureza de cada característica identificada para avaliar sua estabilidade.
Mas conhecer esses traços individuais é o início. Através de ferramentas que nos permitem acessar certos aspectos da psique humana, podemos identificar traços da essência de cada pessoa. Compreendê-los é mais trabalhoso, porém é o necessário para a libertação do espírito. E, claro, é fundamental que a própria pessoa compreenda, afinal, trata-se de autoconhecimento.
Conhecendo-se a si mesmo, percebe-se não apenas as forças, mas também as fraquezas. Identificamos nossas inabilidades ou inaptidões naturais, ao mesmo passo em que vislumbramos nossas qualidades e virtudes. É claro que isso nos dá uma direção para o autodesenvolvimento, mas sobretudo nos dá a capacidade de perceber nos outros as características que não temos. Isso nos conduz a um novo patamar de relacionamento com as pessoas em geral. E, o que é melhor, nos liberta do peso de termos que ser bons em tudo. Esse peso nos é imputado pelo mercado, pela sociedade, pelas pessoas etc. Começamos a entender que isso é melhor resolvido coletivamente e nos desincumbimos de desenvolver tudo o tempo todo. Passamos a entender nosso valor e o dos outros, o valor do conjunto acima do indivíduo.
Repare o quanto isso pode ser libertador. Compreender nossas características, nossas forças, nossa essência e, por conseguinte, também o que não somos naturalmente, nos permite parar de remar contra a maré. Podemos focar naquilo a que já somos naturalmente propensos, com consistência, e ter mais atenção com aquilo que não nos é tão natural. E podemos nos associar com pessoas em quem reconhecemos características, forças e essência complementares para algum objetivo pessoal, profissional, social etc.
O autoconhecimento nos liberta da pressão do mundo e nos reconecta com as oportunidades que ele nos coloca, inclusive nos relacionamentos com outras pessoas. A potência disso está no fato da liberdade não ser isolamento. Liberdade é conquistar o direito de sermos nós mesmos. Não é livre quem se desliga do mundo, mas quem se entende com ele. Por isso é tão importante que nos conheçamos.
Somos seres sociais. Nossa qualidade de vida depende dos relacionamentos que construímos. Não há liberdade no isolamento, pois não poderemos realizar o aspecto social fundamental da essência de ser humano. O autoconhecimento nos ajuda a reconhecer essas boas conexões, na medida em que nos permite perceber os outros também de forma mais essencial.
Ver e reconhecer a essência de cada um nos permite relevar suas falhas, ou mesmo as nossas, em prol do que há de bom. Aliás, as dificuldades e o stress que decorrem dos problemas de relacionamento são reduzidos exatamente porque aprendemos a não esperar aquilo que a essência das pessoas não é capaz de nos dar. Pelo contrário, apreendemos a admirar as diferenças, ou mesmo os antagonismos, como maravilhas da diversidade humana, afinal, aprendemos a enxergar em todos as suas virtudes, assim como em nós mesmos.
Acredito que a percepção de liberdade está no fato de nos entendermos definitivamente como parte de um todo. Isso nos tira o peso de sermos sozinhos. O individualismo assume um status focado no ser e não no fazer ou no existir. Já que o mundo é feito por todos, podemos dividir a carga e assumir a parte que para nós é mais natural.
Sou um indivíduo racional na tomada de decisões e entender as explicações, os porquês, é importante para mim. Construo modelos de compreensão das coisas, o que me permite reinterpretá-las em contextos variados. Sou focado no futuro e nas grandes ideias. Sou metódico, mas também criativo. Essas características me levaram a aprofundar no autoconhecimento a ponto de me qualificar num conjunto de ferramentas e conhecimentos que me permitissem ajudar outras pessoas em suas jornadas.
Pude conhecer muitas formas de acessar a essência das pessoas e, dentre as que me eram acessíveis, escolher as que me pareciam mais apropriadas para meus objetivos.
Realizei a Jornada do Autoconhecimento, do Instituto Caminhos Vida Integral, para a qual me qualifiquei na sequência, numa formação específica com o próprio Instituto.
Escolhi a Jornada porque, em minha perspectiva, ela fornece, nas quatro faces da psique pesquisadas (para usar a metáfora da Jornada), informações sobre:
· Como a pessoa é consigo mesma
· O que baliza essencialmente seu comportamento
· Quais são suas habilidades intelectuais
· Qual é sua percepção de mundo e valores
O generalismo destas abordagens fornece bases para avaliações em diversos contextos, o que pode facilitar a autopercepção da pessoa à medida que as cortinas vão se abrindo para os resultados colhidos (é fundamental realizar uma boa interpretação dos resultados). Além disso, são quatro perspectivas simultâneas que se compõem na construção de uma interpretação menos simplória do indivíduo. Não há como simplificar demais algo que é essencialmente complexo, o ser humano.
Mas uma importante lição da Jornada do Autoconhecimento está no seu próprio nome. Não se trata de um episódio ou um evento, o autoconhecimento é uma jornada, às vezes árdua, difícil, mas sempre benéfica e libertadora. Alcançar um bom entendimento inicial de nós mesmos é apenas um primeiro passo. Deste passo, derivam decisões que tendem a nos conduzir à autorrealização. Esta sim, é uma jornada que exige de nós cada vez mais aprofundamento. A diferença é que, ajustado o caminho dessa evolução, o processo decorre mais naturalmente e a sensação de liberdade e felicidade acompanha todo o caminho. Afinal, o rumo que a vida toma passa a ter razão na nossa própria essência e não mais na pressão do mundo.
Eu arriscaria a dizer que a dificuldade da relação om o mundo não está no mundo (como tendemos a pensar), mas em nós mesmos, porque pautamos essa relação no que entendemos que o mundo espera de nós e não no que temos a oferecer a ele. E mesmo que ele nos pergunte o que temos a oferecer, sem autoconhecimento não saberemos o que responder. Construímos, então, uma relação sem lastro que a sustente. Ora, o que não tem sustentação nos parece sempre pesado, como bolas de ferro presas aos nossos tornozelos.
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