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O MMC das relações

O Mínimo Múltiplo Comum (MMC) é um conceito matemático que se aprende no ensino fundamental. Mas não se explora o fato de que o conceito matemático pode ser usado para compreender outras questões bem mais complexas e não matemáticas.


O MMC refere-se ao número que seja simultaneamente um múltiplo inteiro de números iniciais. Ou seja, nele cabem de forma completa os números originais algumas vezes, sem que fique pedaço de fora. Entre 2 e 6, o MMC é 6, no qual cabem 3 vezes o 2 e 2 vezes o 3. Neste equilíbrio, tanto 2 quanto 3 ocorrem integralmente algumas vezes. O mesmo ocorrer entre 3 e 4, com o MMC 12 e com vários outros números. Todos se realizam plena e múltiplas vezes.


O interessante é que sempre há um MMC entre dois números e ele é sempre uma multiplicidade dos números originais. O MMC dá espaço para que cada número se replique, exista integralmente múltiplas vezes.


Os números originais são diferentes, mas encontram no MMC uma condição de existência equilibrada, plena, simultânea e potencializada. Mais que isso, o MMC é como uma condição de coexistência harmoniosa, na qual cada número amplia sua plenitude.


Não há sentido em falar de MMC de um número isolado. O MMC é, por definição, uma relação entre dois ou mais entes.


Mas imaginemos que cada número represente uma pessoa. Todas são efetivamente diferentes. Mas nas relações precisam encontrar seu MMC. Isso nem sempre é simples.


Entre 2 e 4, o MMC é 4. São como duas pessoas que, embora diferentes, estão em total ressonância ou harmonia. Nem precisam ampliar o espaço em que encontram seu equilíbrio, pois se harmonizam naturalmente. Estão praticamente em ressonância.


Mas imagine o MMC entre 16 e 44. Mais difícil, certo? Não é tão simples encontrar a condição em que ambos podem coexistir de forma plena, completa e harmoniosa. Aquela condição em que ambos existem sem que lhes faltem pedaços, pelo contrário, surgem completos e perfeitos.


Duas pessoas (ou mais, em relações mais complexas) precisam encontrar esta condição em que, apesar das diferenças essenciais, conseguem existir com plenitude. Nessa condição, cada uma potencializa sua essência na integração com a outra. No 12 o 4 se realiza 3 vezes e o 3 se realiza 4 vezes.


É claro que esta comparação é uma alegoria. A ideia central é que a coexistência empática das diferenças é o caminho para a realização essencial, ou, melhor dizendo, a plenitude do ser.


Há um desafio interessante neste processo. Se cada número é uma soma de pequenas parcelas (1+1+1=3; 2+2=4; 1+1=2), para que um se realize, ele precisa contar com parcelas que servirão também ao outro. A potencialização da existência depende da empatia do outro em compartilhar as parcelas que lhe sejam comuns. Elas participam da plenitude de ambos, embora com papeis diferentes na composição geral. Mais que isso, é nesse compartilhamento que a existência de cada número se multiplica.


Se não ficou claro até aqui, é preciso dizer que é fundamental saber lidar com o ego para compartilhar parte de seu ser sem perder sua identidade. Mas sem esse compartilhamento, seu espaço de existência está restrito a você mesmo. O equilíbrio do MMC permite ser mais que isso.


Se você é um 2 e a outra pessoa é um 3, o MMC está fácil. Se você é um 5 e a outra pessoas, um 10, o equilíbrio está quase imediato. Mas se você é um 137 e a outra pessoa um 319, o equilíbrio será mais difícil. Mas isso não deve desanimar, pois se o MMC for encontrado, o espaço existencial permitirá uma existência ampla, múltipla e extensa (por curiosidade, o MMC entre 137 e 319 é 43703).


A operação matemática para se obter o MMC é simples, mas a operação para atingir esta condição de equilíbrio e harmonia entre duas pessoas é bem difícil. Como atingir esta condição?


Primeiramente, é preciso consciência do que somos, ou seja, autoconhecimento. Não um autoconhecimento baseado em “achismo”, mas um consistente. Não basta saber que se tem uma certa característica de personalidade, mas também como ela se manifesta, como reflete no comportamento, nos sentimentos, nas emoções etc., enfim na realização pessoal. E todos nós temos várias características que se influenciam mutuamente (eu disse que é difícil).


Mesmo nos conhecendo, é preciso ainda compreender a outra pessoa. Toda a bagagem que dá consistência ao autoconhecimento nos serve para conhecer o outro. A dificuldade adicional aqui é que se o outro tem um traço de personalidade ou comportamental que não compartilhamos, compreender como este traço opera em sua vida é mais difícil.


Estamos falando que o 137 precisa compreender o 319 e vice-versa, se quiserem potencializar suas existências plenas no 43703. E este é o Mínimo Múltiplo Comum, há múltiplos maiores.


O segredo para vencer a barreira do ego, tão cultivado na sociedade atual, é perceber que nas diferenças encontramos potenciais traços comuns que, se explorados, podem revelar nuances das existências de ambos pouco utilizadas ou cultivadas. 137 e 319 têm o 3 e tem o 1, sua diferença crítica está entre o 7 e o 9. Com boa vontade, essas pequenas semelhanças podem oferecer uma base sobre a qual o ambiente do MMC é construído.


Escolhi os números do exemplo não à toa, pois são números primos, ou seja, de difícil harmonização. São números com ego inflado, que não se percebem similares a ninguém. Mas mostramos que, mesmo assim, há traços sutis que permitem uma conexão e dão base a uma relação.


Que número é você? Que número é o outro? Você está preparado para vencer a barreira do ego e dar ao outro espaço para uma existência múltipla e plena? Tem consciência de que este é o caminho para a sua própria realização essencial plena e múltipla?


Todos queremos o bem-estar e a felicidade. E todo somos conscientes da necessidade que temos de relações para chegar a esta realização. O difícil é compreender que o espaço para realizarmos nosso próprio bem-estar e felicidade está fundamentalmente ligado ao que compartilhamos de nós para criar o espaço do outro. Por isso nos sentimos tão felizes e realizados quando contribuímos para a felicidade e realização de outra pessoa. É um vislumbre da construção do nosso MMC com ela, ou seja, construção da nossa própria realização fundada da realização do outro.

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