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Foto do escritorRenê Ruggeri

Trabalho colaborativo na prática, o desafio não é colaborativo

Com certeza você já ouviu o discurso de que precisamos trabalhar colaborativamente. Isso tem sido dito em diversas áreas e, de fato, é uma verdade. Na realidade, não precisamos disso hoje, sempre precisamos, mas não percebíamos. A colaboração não é uma necessidade atual, mas uma necessidade perene. O que ocorre é que as coisas andam acontecendo tão rapidamente, que foi possível perceber que os ciclos de colaboração estão muito longos, fora de sua utilidade prática adequada aos dias de hoje.



Para entender isso, é preciso reforçar (ou corrigir) o conceito de colaboração. Colaborar é empurrar um carro junto com alguém. Um só normalmente demorará muito para atingir certa distância (pois o esforço é grande), mas o esforço conjunto produz o resultado bem mais fácil. E não adianta revezar. O revezamento produz resultado muito parecido com o esforço individual. Colaborar é esforçar conjuntamente, trabalhar todos simultaneamente para gerar o resultado. Não se trata de somar o pouco resultado de cada um, mas produzir um único resultado com esforço conjunto.


Somar resultados é cooperar, o que é bom, mas não é colaborar.

Alguns trabalhos não são possíveis de serem realizados individualmente, apenas colaborativamente. Mas, mesmo os que podem ser feitos individualmente, podem receber um incremento de facilidade e até de melhoria, quando realizados colaborativamente.


Na prática profissional é fácil encontrar exemplos de atividades ou tarefas que demandam colaboração. Muitas vezes não é porque não podem ser realizadas individualmente, mas colaborativamente entregam um resultado bem melhor. Se uma equipe não o faz, outra o fará. A vantagem competitiva surgirá da colaboração. A colaboração tem um alto valor estratégico.


A colaboração não tem apenas o espírito do que é bom. Ela tem o espírito do que é melhor. Ela não busca a entrega simplesmente, ela busca uma entrega otimizada, melhorada. Não se trata apenas de eficiência, mas também de eficácia, ou seja efetividade. E ela consegue isso porque reúne mais de uma perspectiva, já que é realizada com o esforço conjunto de vários. O resultado é bom, sob os diversos pontos de vista envolvidos e isso é o que garante a percepção de ser melhor.


Mas veja que, para que seja bom para todos que participam do esforço, cada um deve ter sua opinião. Para que os esforços se agreguem é preciso haver consenso, afinal se forem esforços opostos, não haverá colaboração e sim anulação. O melhor depende, então, do consenso. O consenso é o que alinha os esforços e deles nasce o resultado. Co-laborar é laborar junto e na mesma direção.


O consenso é obtido pela influência entre as partes que inicialmente tinham visões ou opiniões diferentes. Elas argumentam, se explicam, se escutam, até o ponto em que convergem sobre a direção do esforço que devem realizar. Aí sim, os esforços se somam. Veja que o consenso depende da comunicação efetiva entre as partes colaborantes. E a mensagem de uma comunicação efetiva é uma mensagem com coerência interna, aquele tipo de coerência que não depende de quem a expressa, pois está implícita no próprio conteúdo. Só precisa ser entendida.


Comunicar é tornar comum. Mas consentir (consenso) é compartilhar um sentimento. Logo, a comunicação da colaboração deve tornar comum o sentimento de que a direção dada aos esforços está correta e isso é obtido com base numa mensagem com coerência interna, pois pode ser compreendida e expressa por qualquer pessoa. Isso é o que a torna coletiva.


Veja que simplesmente obedecer não é consenso. Logo, liderar para o trabalho colaborativo não é influenciar as pessoas a seguirem o líder, mas influenciá-las a encontrar a direção adequada, o consenso, a percepção de coerência a partir da troca de opiniões. E aqui há um desafio, sobretudo se cada um tem uma opinião diferente sobre qual é a direção a ser dada ao esforço. Colaborar exige disposição para mudar de opinião. Por isso é possível trazer para a colaboração que não tem opinião nenhuma, mas tenha a disposição para ter. E é quase impossível colaborar com quem não se dá a oportunidade de mudar de opinião.


Mas sabemos que mudar de opinião não é algo simples. Renunciar às nossas posições exige esforço individual, esforço psicológico. Esse sim, por mais que possa contar com apoio de outros, é um esforço interno, quase que individual. O que tem poder de mudar nossa opinião é a coerência interna da mensagem. Acreditar em quem a expressa não é mudar, é aceitar. Tem efeito apenas momentâneo. E a colaboração deve ser perene. Obtê-la por crença e não por coerência argumentativa é perigoso nesse sentido.


No fim, chegar à capacidade de trabalhar colaborativamente exige influenciar opiniões e o desafio maior é nos prepararmos para trocar nossa opinião individual por outra cuja coerência consigamos compreender, entendendo que isso não é renunciar ao que somos, mas aprimorar o que somos. E aprimoramento compõe o caminho da evolução.


Colaboração é coisa de gente evoluindo.

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