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Os portões do FEL no PDP

Foto do escritor: Renê RuggeriRenê Ruggeri

O FEL – Front End Loading é uma metodologia para gerenciamento de projetos, muito aplicada aos chamados projetos de capital. Estes projetos são aqueles em que há investimentos em ativos físicos para criar ou expandir operações. Em geral são comuns nas indústrias, mas o conceito se aplicaria a qualquer setor de mercado. Aplica-se capital numa operação para obter retorno com a produção.


Mas o FEL, como metodologia, não se aplica exclusivamente a este tipo particular de empreendimento, tanto é que costuma ser usado também em projetos, por exemplo, de adaptação a condicionantes legais. Nestes casos não se faz o investimento para obter retorno, mas para garantir que a operação se mantenha regular, sob pena de sofrer sansões, ou até mesmo embargo.


Estes empreendimentos, por incluírem a implantação de ativos fixos, são tipicamente empreendimentos de engenharia. A metodologia FEL, então, é essencialmente uma metodologia para gestão de empreendimentos de engenharia.


Resumidamente, o FEL está organizado em fases (FEL1, FEL2 e FEL3), nas quais algumas metas devem ser cumpridas e entre as quais são tomadas decisão estruturadas sobre o andamento ou não do empreendimento. O objetivo do FEL é entregar uma concepção de engenharia plenamente alinhada ao negócio para que sejam feitos investimentos de forma consciente e controlada. Nesse sentido, há momentos importantes de tomada de decisões críticas para o negócio nas quais se aprovam as diretrizes para as concepções de engenharia nas fases seguintes. As tomadas de decisão ocorrem nos chamados portões do FEL, entre as suas fases e que, a rigor, deveriam barrar os empreendimentos que não demonstrassem claramente o cumprimento das metas da fase. Concluídas as fases do FEL, resta implantar efetivamente o empreendimento com a execução das obras, que inclui o detalhamento executivo das soluções já concebidas e validadas.


Para o empreendedor, as fases do FEL são fundamentais. Em FEL1 está em estudo a viabilidade e a definição do empreendimento com foco nas demandas do negócio. FEL2, também chamado de Engenharia Conceitual, se preocupa com a conceituação e seleção das soluções de engenharia que conduzem aos resultados operacionais desejados. FEL3, a Engenharia Básica, amadurece tais soluções a ponto de se poder iniciar as aquisições (o grande investimento propriamente dito). Veja que são decisões críticas para o empreendedor e para se chegar nelas muito trabalho é realizado durante as fases do FEL.


Se focarmos especificamente no Processo de Desenvolvimento dos Projetos (PDP) de engenharia, não é difícil reparar que as três fases não são suficientes. Em FEL1, por exemplo, há trabalhos de pesquisas de informações importantes e há também definições de parâmetros para estimativas do empreendimento e suas partes constituintes. A partir disso, definem-se as diretrizes e requisitos para as alternativas de soluções técnicas na fase seguinte.


O trabalho em FEL1 é extenso e precisa ser organizado para que seja possível gerenciá-lo. Situação similar ocorre em FEL2 e FEL3. Ou seja, há diversos trabalhos, metas ou entregas a serem feitas à medida que os trabalhos avançam dentro de cada fase FEL.


O que ocorre é que, embora para o empreendedor as fases sejam apenas três, para a equipe de engenharia é possível estabelecer subdivisões nas fases FEL para gerenciamento do seu trabalho.


No FEL 1, a engenharia precisa desenvolver os Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica, baseados em estimativas feitas por índices criticamente analisados, aplicados sobre alternativas técnicas e tecnológicas levantadas pela equipe. Ou seja, há uma sequência mais ou menos necessária.


Os primeiros trabalhos são necessários para a execução dos últimos. Não se faz Estudo de Viabilidade sem definir índices a serem usados para boas previsões e não há como definir criticamente os índices sem a consideração das técnicas e tecnologias disponíveis (que os impactam, naturalmente).


A questão que colocamos é: quando devemos admitir, por exemplo, que a Pesquisa de Técnicas e Tecnologias, bem como os índices para estimativas estão satisfatórios para subsidiar os Estudos de Viabilidade?


Veja que há definições críticas feitas no meio do FEL1 que impactam seus resultados. Não é adequado aguardar o Portão 1 para descobrir que alguma pesquisa ou levantamento não está adequado. Logo, seria conveniente e até mesmo necessário instituir portões de decisão técnica de engenharia em etapas intermediárias nas fases FEL.


FEL 2 não é diferente. Para estudar alternativas é preciso que informações técnicas precisas da área de implantação e do contexto do empreendimento estejam disponíveis.  Podemos pensar em trabalhos como Levantamentos de Campo (topografia, sondagens etc.), Levantamentos de Mercado Fornecedor Local, Estudos de Cases Similares, Estudos de Tecnologias Inovadoras, Concepção e Análise de Alternativas (arranjos e complementares), Caracterização de Alternativas (custo, prazos, segurança, construtibilidade, sustentabilidade etc.) e. enfim, Seleção de Alternativa(s), Estratégias de Implantação e Identificação de Pontos Críticos.


Veja que as concepções e caracterização precisam dos resultados dos levantamentos. Logo, é adequado, por exemplo, validar os levantamentos para iniciar concepções. Há, portanto, uma etapa de levantamentos e pesquisas que antecede a etapa de concepções. Levantamentos falhos conduzirão a concepções deficientes. Mais uma vez, ao menos um portão de decisões técnicas de engenharia é possível no interior de FEL2.


FEL3 tem um volume bastante grande de trabalhos de engenharia, pois as soluções são caracterizadas e especificadas. Em FEL 3 são (ou deveriam ser) concluídos também os licenciamentos. Aliás, além dos licenciamentos em órgãos de fiscalização, a própria operação deve dar sua “aprovação” às soluções. Após concluídas as concepções, especificações e dimensionamentos, é preciso estruturar a documentação para a comunicação com demais partes e obtenção de propostas de fornecedores (aquisições). É possível perceber ao menos um portão de licenciamentos, pois não é recomendável detalhar soluções ainda não licenciadas; e um portão de conclusão de caracterizações e especificações de soluções para início do refinamento das documentações.


Estes portões intermediários, associados aos portões padrões do FEL definem um ciclo de vida mais detalhado para o desenvolvimento da engenharia do empreendimento que, embora não seja acompanhado em detalhes pelo empreendedor, precisa ser controlado pela equipe de engenharia, pois trata-se do Processo de Desenvolvimento do Projeto - PDP.

 

 

O quadro resume o PDP e o FEL indicando os portões gerais do FEL e os específicos entre etapas do PDP. É claro que a relação entre PDP e FEL tem alguma flexibilidade, até porque os casos concretos diferem entre si em demandas e condicionantes. É lógico também que o quadro não considera todo o escopo do empreendimento, pois destaca o trabalho de desenvolvimento de engenharia em relação ao FEL. Haveria ainda, por exemplo, todo o trabalho de planejamento e orçamento, também paralelo (e que, talvez, tenha seus próprios portões complementares aos do FEL).


Agora reflita: os casos de falhas na aplicação do FEL possuem alguma relação com a não consideração de portões do PDP? Se os portões do FEL são vitais e os do PDP seguem lógica similar, não seria razoável que fossem também tratados com a devida consideração? Isso não muda o FEL, mas agrega o PDP, o que é fundamental na ótica do projetista que, efetivamente, é quem produz o Projeto de Engenharia.

 

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