Se alguém gerencia uma pequena loja de roupas, não é difícil imaginar suas atribuições, desde as administrativas, passando pelos recursos humanos e físicos, e chegando à comercialização dos produtos. Nos pequenos negócios é sempre assim, você bate o escanteio e corre para cabecear a bola para o gol.
Se a loja cresce um pouco, é comum ocorrer uma divisão das atribuições de gestão, por exemplo com alguém assumindo especificamente a gestão comercial, enquanto outra pessoa assume as atividades administrativas e outras. A divisão pode ir aumentado se o negócio cresce ainda mais.
Numa empresa que envolve atividades de engenharia ocorre o mesmo. Uma pequena empreiteira, voltada para a construção de casas, pode ter um único gestor responsável por todas as atividades, ou pode ter um gestor para questões administrativas, outro para questões comerciais e outro para as atividades eminentemente técnicas da engenharia. Este último, a rigor, seria o que chamaríamos de Gerente de Engenharia.[
Mas nas grandes empresas, ou mesmo nos grandes empreendimentos, definir estes limites é tão necessário quanto delicado. Afinal, na implantação de um empreendimento de construção civil, tudo é muito sistêmico e, algumas vezes, pode ser difícil estabelecer a fronteira entre uma área mais técnica (produtiva) e outra mais administrativa. Além disso, à medida que o porte dos negócios aumenta, um gerente de engenharia pode liderar uma equipe numerosa, assumindo funções típicas de gestão de recursos humanos, responsabilizando-se pelo desenvolvimento das equipes.
Assim, podemos pensar, de forma genérica, na Gestão de Engenharia como a função que se ocupa de gerenciar qualquer atividade que envolva essencialmente algum tipo de conhecimento técnico em engenharia. Essa definição permite um leque bastante amplo de possibilidades para a função.
Classicamente, podemos pensar no desenvolvimento dos projetos do produto que se deve gerar. Estamos aqui falando de projetos essencialmente técnicos de engenharia, mas que fique claro que na construção civil (predial) isso envolve também a Arquitetura. Essas áreas de especialização eram antigamente a mesma, que foi se segmentando com a evolução do mercado. O desenvolvimento dos projetos envolve, na construção civil, a Arquitetura e todas as modalidades de Engenharia pertinentes a um empreendimento. Veja que tecnicamente o escopo da Gestão de Engenharia é bastante amplo.
Se pensarmos no ramo industrial e na contínua manutenção que ele envolve, é possível pensar numa Gestão de Engenharia voltada para a manutenção industrial. Similarmente, podemos pensar em atividades que lidam essencialmente com Engenharia em diversos negócios e, portanto, a função de Gestão da Engenharia caberia em todos eles. Pelo porte, pode estar acumulada num único cargo na estrutura organizacional, ou isolada num cargo que receba essa função específica.
Mas além do desenvolvimento dos projetos de Arquitetura e Engenharia, há algumas outras atividades que envolvem conhecimentos específicos e especializados em engenharia. Essas, então, estariam também no guarda-chuva da Gestão de Engenharia. Estamos falando do planejamento da execução do que foi projetado. Planejar metodologias construtivas exige conhecimento especializado. Similarmente, a definição de custos exige este conhecimento metodológico, pois mudando a forma de executar, mudam-se os custos. Então, as atividades de planejamento e orçamentação caberiam sob a Gestão da Engenharia.
Nessa linha, é possível pensar até mesmo nos processos de compras técnicas. Há compras cujo escopo específico é técnico o suficiente para justificar que demandem apoio técnico de engenharia. Essas aquisições, podem ser consideradas como pertinentes à Gestão de Engenharia, embora isso seja menos comum, por haver setores organizacionais específicos para gerenciar aquisições nas empresas.
E não para por aí.
Nestas divisões organizacionais onde as atividades são especializadas em engenharia, os processos de trabalho são complexos o suficiente para que demandem conhecimento específico e técnico para sua estruturação. Logo, a Gestão de Engenharia pode incorporar a Gestão dos Processos que lidem com a produção dos resultados cujo conteúdo seja técnico e especializado. Se pensarmos que a qualidade dos resultados gerados depende da qualidade dos processos usados na produção, não é difícil perceber o quanto estes processos de produção na área de engenharia são específicos e complexos.
Assim, resumindo, a Gestão de Engenharia engloba basicamente três subáreas que englobam uma infinidade de conteúdos que são, essencialmente, específicos dos conhecimentos em engenharia:
1- O desenvolvimento de projetos de Arquitetura e Engenharia, seja para novos investimentos ou para manutenção ou reforma de empreendimentos já em operação. Coordenar esses trabalhos é uma atividade típica da Gestão de Engenharia.
2- Planejamento e controle da execução dos serviços de engenharia, o que exige conhecimento técnico específico e, em geral, está estreitamente relacionado com o desenvolvimento dos projetos. Neste planejamento e controle podemos incluir os suprimentos (aquisições) para a execução dos serviços, pensando nos condicionantes específicos e especializados que podem envolver.
3- Gestão dos Processos complexos e específicos que envolvem a produção dos serviços de engenharia, uma vez que para a estruturação destes processos, os conhecimentos demandados são bastante peculiares à engenharia.
A complexidade deste escopo é tanta que cada uma destas três áreas constitui, no mercado, funções que podem estar isoladas em cargos diferentes, com denominações que variam bastante. Coordenadores de Projetos, Compradores Técnicos (ou Vendedores Técnicos), Gestores e Consultores de Processos de Engenharia são cargos típicos relacionados a estas funções.
Mas, ainda que separados em cargos, em algum momento estas funções se encontram na estrutura organizacional, sob a guarda de um gestor ou de uma equipe específica. Embora os nomes possam variar, está aí a abrangência da Gestão de Engenharia e sua criticidade é fácil compreender quando se percebe que é sob esta gestão que são tomadas as decisões com maiores impactos técnicos e econômicos nos negócios relacionados à produção em engenharia, seja na implantação de empreendimentos novos, ou na manutenção de empreendimentos já em operação.
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