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Foto do escritorRenê Ruggeri

Inteligência Artificial, Comunicação e Projetos AEC: onde isso vai dar?

Escrevi o texto a seguir e pedi ao Chat GPT que o reescrevesse. Ele fez basicamente ajustes sintáticos, mas trocou umas palavras como sinônimos que, para minha intenção, não seriam. Melhorou? Sim, mas precisei fazer uma nova revisão eu mesmo. A ilustração é do Copilot.

 

Atualmente, parece quase impossível discutir qualquer assunto profissional sem tocar na questão da inteligência artificial (IA). No contexto dos Projetos de Arquitetura e Engenharia (Projetos AEC), o aspecto comunicacional se destaca como um tema especialmente rico, já que a comunicação é essencial quando se trata de IA.



Primeiramente, é fundamental compreender que os processos de comunicação são cíclicos. Se você envia uma mensagem e não recebe um retorno, tecnicamente não houve comunicação. Comunicar é diferente de informar; comunicar significa “tornar comum”. Portanto, se as partes não se influenciam mutuamente na construção de uma ideia comum, não há garantia de que ocorreu uma comunicação efetiva.


O Projeto AEC representa uma mensagem extremamente complexa que um grupo de projetistas tenta “tornar comum” com outro grupo de profissionais. Inicialmente, a comunicação ocorre com o empreendedor, e a interação com ele deve ser intensa. À medida que o processo avança, o grupo receptor muda para os fornecedores e executores da obra.


Analisar o Projeto AEC como um suporte de mensagem em um processo comunicacional na implantação de um empreendimento nos coloca diante do desafio de estabelecer ciclos de comunicação eficaz com esses grupos de receptores.


Nas etapas iniciais do Processo de Desenvolvimento do Projeto (PDP), o principal interlocutor é o empreendedor, e os feedbacks são intensos. O próprio briefing inicial (referenciando uma prática comum de mercado) é um processo de troca intenso, ou seja, de comunicação.


No meio do processo, as trocas de informações tornam-se mais técnicas. Com órgãos públicos, busca-se a acreditação do projeto, e as comunicações se dão por meio de documentos de projetos e relatórios de análise. Com os fornecedores, a troca ocorre com questionamentos emitidos pelos projetistas e respostas fornecidas pelos fornecedores.


Mais para o fim do Processo de Desenvolvimento do Projeto (PDP), o receptor da mensagem do Projeto AEC tende a ser o executor da obra. Contudo, os processos de trabalho não incluem, de forma consolidada, oportunidades para recepção de feedback. No máximo, há uma sessão de questionamentos encaminhados para serem esclarecidos pelos projetistas, mas este processo é limitado e não obrigatório.


Perceba que, no período em que a mensagem é mais complexa, a ciclicidade do processo comunicacional é mais interrompida pelos procedimentos usuais de trabalho.


A resolução dessa dificuldade poderia ser alcançada de algumas maneiras:


  1. Inclusão metodológica dos executores em etapas mais iniciais do PDP, para que possam interagir no processo. O entendimento do Projeto AEC nas etapas finais seria bem mais comum entre projetistas e executores. No entanto, é importante notar que mobilizar um executor para algo que ainda não foi definido (projetado) pode ser um desafio.

  2. Instituir metodologicamente mecanismos de feedback entre projetistas e construtores, criando ciclos de comunicação.

  3. Tornar o Projeto AEC mais interativo com o construtor, de modo que suas dúvidas possam ser objetivamente sanadas pelo próprio Projeto AEC. A maior dificuldade dos construtores pode ser alcançar o que chamamos de interpretante lógico. Esse conceito precisa ser bem compreendido para ser concretizado no Projeto AEC, e a IA pode ser uma grande aliada na questão da interatividade.


Para reforçar uma ideia central, é crucial não negligenciar o viés comunicacional do Projeto AEC. Nas faculdades, aprendemos técnicas de representação e, mais recentemente, técnicas de modelagem. Embora todas sejam necessárias para a comunicação, nenhuma delas é, em si, uma técnica de comunicação. Dominá-las não garante sucesso comunicacional, apesar de algumas poderem facilitar o processo. A representação se restringe ao procedimento de codificação no processo comunicacional, que é apenas um elemento desse processo. Há muito mais a considerar para expandir essa compreensão.


Já abordei o processo de comunicação em outros textos, mas vamos citar três fundamentos da construção de mensagens que são extremamente importantes no caso das mensagens complexas, como as dos Projetos AEC.


Toda mensagem possui estrutura, ordem e repertório. Esses são elementos básicos no processo comunicacional, além da questão da ciclicidade (vou omitir, para simplificação, o referente como elemento também fundamental do processo comunicacional).


Alterar a ordem pode dificultar e até modificar o entendimento. Existe uma ordem mais adequada para apresentar e “ler” as mensagens. A questão é: como isso tem sido considerado na apresentação dos Projetos AEC? Normalmente, a melhor ordem de apresentação e leitura não é a mesma em que a mensagem foi criada.


Na prática, incluir uma única planta baixa com todas as informações pertinentes no conjunto de documentos pode não ser adequado. O excesso de informação gera ruído no processo comunicacional. Pode ser mais eficaz apresentar várias plantas com informações diferentes para compor a mensagem total gradativamente. Alternativamente, é necessário criar interatividade na leitura de uma planta cheia de informações para ajudar a audiência a percebê-las na ordem mais adequada. Isso não é algo simples de se fazer, especialmente se pensarmos apenas em termos de representação.


O repertório está diretamente relacionado à audiência da mensagem, ou seja, ao grupo capaz de interpretá-la corretamente. Exigir um repertório mais especializado reduz a audiência. Mensagens codificadas de forma simples são mais facilmente compreendidas. A seleção de repertório adequado à audiência é crítica. Como exemplo, menciono um experimento que realizei várias vezes em sala de aula: extraí frases de documentos técnicos que eram elementares para engenheiros mecânicos, mas ininteligíveis para arquitetos, e vice-versa; outras frases não agregavam valor para engenheiros eletricistas, mas eram ricas em conteúdo para arquitetos de interiores. A audiência determina o repertório, e a IA pode descrever a mesma coisa com repertórios diferentes.


A estrutura da mensagem é um componente mais abstrato e extremamente importante. Um amontoado de rabiscos não constitui um desenho, um aglomerado de palavras não forma um texto, uma sequência aleatória de imagens não é um filme. Há algo nas mensagens que nos permite reconhecê-las como tais. Um conjunto de documentos apresentados de qualquer maneira não constitui um Projeto AEC. Não confunda estrutura com ordem, pois a ordem pode ser identificada ao se entender a estrutura lógica. A falta de estrutura impede o reconhecimento da mensagem como tal, resultando apenas em confusão.


Tanto a estrutura, o repertório quanto a ordem podem variar nas mensagens. Algumas têm boa estrutura, mas são mal codificadas (repertório inadequado). Outras são bem ritmadas (ordem), mas ilógicas. E assim por diante. Já mencionei que é complexo!


Na arte, é comum "brincar" com esses componentes das mensagens. Já leu um poema e teve a impressão de que não o entendeu? Essa falta de entendimento pode ser motivada pela ordem, pelo repertório ou pela estrutura. Se você pudesse pedir ajuda ao poeta, seria mais fácil compreendê-lo.


Essa é também a situação do construtor ao "ler" um Projeto AEC. Não dá para entrar na mente do emissor da mensagem. Para tornar o entendimento comum, é preciso "trocar ideias", compreender a lógica subjacente à mensagem, ajustar o repertório e ser bem conduzido na ordem adequada de leitura.


A IA pode ajudar nesse processo. Mais do que isso, ela pode ajudar a distinguir o que é uma boa arte, mesmo que seja difícil interpretá-la. Afinal, entender uma mensagem não garante que seu conteúdo esteja correto. Aliás, é do entendimento que surge a possibilidade de crítica. Por isso, encarar o Projeto AEC como um processo comunicacional é vital não apenas para a correta execução da obra (interesse do construtor), mas também para a correta crítica às soluções criadas (interesse do projetista).

 

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